Acalanto

Para minha mãe, Ruth Maria Chaves Martins

A pedra lançada no rio

desdobra a água

em círculos.

*

Espelho feiticeiro que

expande o fato,

que se debruça em outro

e mais outro.

*

A memória desenrola,

em ondas,

seu carretel desenfreado

e sem bússola.

*

A imagem no centro

mergulha

e desaparece,

qual a pedra que afunda.

*

E deixa,

na superfície encrespada,

uma lembrança persistente:

clareira em água inquieta.

 

(Analice Martins)

 

Épica das manhãs

O mar gritou em mim

sua fúria

longínqua.

 *

Lembrou-me que é,

na bravura das ondas,

que o nadador

esgrime.

*

O mar me amanheceu

– rouco e altivo –

no silêncio das manhãs

praieiras.

 *

Soprou um som passarinho

na pele eriçada

de poros na escuta.

 

(Analice Martins)