Poeminha de circunstância III (contra a ferrugem dos sentidos)

Aquele relógio branco

impassível

devora os minutos de um tempo

que não quer se represar.

*

Aquele relógio branco

cruel

me lembra, qual um epigrama,

que a felicidade é veloz e precária,

custa a vir e, quando vem,

não se demora.

*

Aquele relógio branco

esfíngico

também me sussurra arcaicamente

que, na aresta de um instante,

não se questiona o destino

de nossos passos.

*

Aquele relógio branco

tonto

não sabe que o instante que passa

passa definitivamente.

 

Analice Martins (Campos, 10/09/2024)

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