À moda de

I

Ah, eu quero o verso da manhã

límpido e cristalino,

punhal de prata

cravado na carne

da palavra,

que – vertigem-

não conhece as

garras da sintaxe.

 *

Não, não é preciso

que se atravesse

a noite

em claro.

 *

Mas tão-somente

que o verso ganhe

da manhã

seu orvalho primeiro.

 

II

Ah, eu quero o verso da manhã,

despudorado, desvairado,

passado de boca em boca,

de mão em mão,

profano,

promíscuo,

perdido.

 *

Procurem por toda a parte.

Perguntem nas padarias

nas farmácias

nas igrejas.

Perguntem ao jornaleiro.

 *

Digam que estarei aqui,

sozinha,

que lhe farei todas as carícias,

que o farei sentir toda a minha ternura,

e que, então,

ele esquecerá todas as minhas baixezas

e me tomará como sua.

 

(Analice Martins) 

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