O traço na página em branco
cava a palavra,
que tomba em gruta
profunda.
*
O eco da palavra escavada
distorce o sentido.
Inventa uma outra
vertigem.
*
A página em branco é caverna
de paredes e ásperas entranhas.
Precisa da teima e da urgência
de quem a percorre.
*
A sombra do traço entrevisto
ganha a cor do desejo imaginado.
Eis a magia que propicia
a coisa.
*
A coisa que – sólida –
o desejo inventou,
e o traço riscou
na parede branca e muda.
(Analice Martins)